domingo, 21 de agosto de 2011

A verdade sobre a qualidade dos sambas


Quando comecei a acompanhar carnaval em 1991/92, dizia-se que o samba acabou. Samba mesmo era o de antigamente, hoje em dia...saudosismo ingênuo. Samba com gíria, de protesto com balanço de bloco e de marcha é coisa de samba de segunda categoria que até funciona mas...apenas preconceito.

Que nada...foi de 84 a 95 a melhor safra de sambas de todos os tempo, a mais criativa porque quebrou tabus, foi a que se livrou do tom "clássico" e bem educado da ditadura. Safras da década de 60 e 70 eram ruins com “alguns”  sambas fantásticos (que se tornaram muitos até) se sobressaindo PORQUE a cadência era clássica. Muitos desses sambas no ritmo pesado e rápido de hoje em dia passariam despercebidos.

 E hoje...outra mudança. Já não se ouve dizer que a safra está ruim, claro, sempre vai haver 3000 fanáticos pra cantar o samba e o mais importante é o espetáculo e o circo do carnaval do “especial”, ditando moda. O samba deve embalar os malabaristas do carnaval com suas evoluções nas mãos.

Saíram os sambas e todos são parecidos, as mesmas palavras, a sinopse em verso. Frases-feita. O compositor morre de medo de sair da sinopse porque sabe que vai perder. Cadê a coragem antiga de inventar como o “se matar esse boi/ o mocotó é meu/ pra pagar a corrida/ que esse boi me deu ? Cadê a alegria, o humor, o Momo dos sambas de 80 ou a melodia rica,  superversátil e meio rancho dos anos 60 e 70?

 A  sinopse é carregada de informação, existe carnavalesco fazendo até monografia  na sinopse e o compositor em vez de fazer música o que ele faz é [tentar] compor  tecnicamente as informações da sinopse com ritmo. Estão deixando de fazer música e, sim, encaixando prosa em versos.
Samba tem que ser quadradinho, são esses que ganham porque o samba bom é melodioso. Dá trabalho pra bateria fazer bossa, o diretor de bateria vota contra e derruba o samba no concurso porque vai dar trabalho pra ele e pode perder o emprego. Dá trabalho para o diretor de harmonia fazer cantar. Afinal são máquinas que cantam e quanto mais fácil melhor para programá-las. Samba bom custa um fôlego maior dos componentes. Samba bom custa uma força de vontade de aprender uma letra difícil ou dosar direito as notas de um verso. Samba bom tem letra, tem armadilhas na melodia e o diretor de harmonia vota contra porque tem medo de perder o seu emprego.

E o pior: o cara que dá nota não avalia samba. Duvido muito que ele entenda disso mesmo. Ele avalia força política. Avalia se a escola cantou - se cantou é bom, se não cantou é ruim, simples assim. Jurado de samba é no fundo jurado de harmonia, ou,  pelo menos, mescla os quesitos.  Se não cantou ou se tem que dar uma nota baixa pra mostrar serviço,  ele pega um pretexto e diz que a melodia não se encaixou com a letra ou qualquer outra coisa.

Samba ruim é difícil de resolver? É a coisa mais fácil do mundo. É só esses dadores de notas tascarem um 8 pra esses sambas  boi-com-abóbora  e ano seguinte teremos sambas que poderão lembrar os anos dourado de Silas e outros.  Samba ruim se resolve, difícil é manter as contas em dia.

Rob Beto

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