quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Jacarezinho visita a poesia no reino de Maria Clara Machado

Jacarezinho é o samba, que vista a poesia, poesia inédita, desconhecida pelos sambistas e poetas, no reino de Maria Clara Machado.

O que é samba-enredo?

A visita do Jacarezinho ao reino encantado de Maria Clara Machado responde.

Samba não é clichê de frase-feita, de falsa exaltação à escola, um tom grave como se o carnaval fosse uma religião. Carnaval é uma “festa pagã”, é uma brincadeira, é o próprio deus sarcástico que foi expulso do Olimpo. Os sambas de hoje querem colocar seus enredos e homenageados no paraíso mas esquecem que Momo foi expulso de lá. E na essência do carnaval, quais os versos e os refrões musicais que tínhamos nos cordões do início do século? A brincadeira, a gozação da vida, nunca em tom radical de pilhéria (havia um orgulho, uma densidade de não ser sério) mas jamais na naquilo como se o contar do samba fosse um hino

E por falar dessa visita, ninguém segura o Jacaré, tem poesia e samba no pé. Sou Jacarezinho e sou criança; eu me fantasio de criança e vou brincar no reino da Maria Clara. Eu não estou falando de uma criança, da Alice, que atrás do coelhinho apressado caiu no abismo e se perdeu, e descobre a realidade...a realidade da “desfantasia” ; eu sou a criança, sou, eu sou, eu sou, três vezes. E visito o mundo encantado. E na doce inspiração do poeta verdadeiro do carnaval, clareou, e como clareou Maria Clara Machado; eu não falo de alguém mas esse alguém clareia na minha imaginação. Meu coração é o relógio que bate tique-taque forte e logo sou recebido por bonecos engraçados. E sem qualquer coerência perturbadora dos que querem destruir a música, logo me encontro com o doutor que faz crescer no “lá vou eu pra conhecer” daquele jeito de criança que sai correndo “pra” brincar. Caio no samba com a bruxinha boa, dispenso a má, num “sai pra lá’, bem do jeito como gosto de falar, pois é carnaval e eu quero mesmo é saracutiar nesse refrão que lembra os dos antigos cordões do passado:

Vem brincar, bruxa boa
Sai pra lá, bruxa má
É carnaval
E eu quero é saracutear

Como és tão linda!
Como és formosa!
Olha os Destemidos
No galho da rosa.

Moreninha bela
Hei-de te amar
Sonhando contigo
Nas ondas do mar.

Tudo ocorre num passe de magia, sem explicação, porque poesia, música e samba são encantamento . Vou paro o outro mundo, o reino medieval, e ali estou dramatizando uma disputa com o dragão: quem vencer “leva” a filha do rei. E de mundo em mundo, agora estou no circo, que transborda alegria. O coração explode de emoção porque sem mais nem menos monto no cavalinho azul para investigar quem matou o leão. E o “mais malandro”, bons tempos, aqui é o camaleão. De repente, paro na Arca de Noé, não a verdadeira, séria e autodestruidora da consciência, mas a do sonho da música e do conto, por isso canto com todo força: “O dilúvio pode vir / Pois afinal sou Jacaré / Pego carona na arca de Noé”. Mal saí da Arca, nem me despedi e agora estou num duelo de bang-bang no faroeste de Tribobó, caramba, quem sacar primeiro levar a melhor. Nem preciso saber o que aconteceu, sei lá, estou vivo, mas vejo o fantasminha Pluft, pois estou na Sapucay, e tudo é possível no sem-nexo do carnaval e do samba. O samba é a incoerência mais bela e nobre da música. O carnaval é um remontar louco de coisas perdidas do inconsciente. Mas, infelizmente, Maria Clara Machado, quando voltar nos próximos sambas de carnaval vai me conduzir à ilusão pelo mundo da realidade.

A Visita do Jacarezinho Ao Reino Encantado de Maria Clara Machado

Sou Jacarezinho e sou criança
E visito o mundo encantado
De uma doce inspiração
Que clareou "Maria Clara Machado"
Tic-tac meu relógio bate forte
Sou recebido por bonecos engraçados
Lá vou eu pra conhecer
O doutor que faz crescer

Vem brincar bruxa boa
Sai pra lá bruxa má
É carnaval eu quero é saracotear

E num passe de magia... me encontrei
No reino medieval quem matar o dragão
Leva a filha do rei
O circo transborda alegria
Explode coração de emoção
Vou no cavalinho azul pra saber
Quem matou o leão
O mais malandro aqui é o camaleão
O dilúvio pode vir
Pois afinal sou Jacaré
Pego carona na arca de Noé
Quem sacar primeiro leva a melhor
Tem faroeste e bang-bang em Tribobó

Olha o Pluft aqui, olha o Pluft ali
Um fantasminha na Sapucaí

Fotos - Sossego 2011










segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Samba é poesia

O RUGIDO DO LEÃO EU QUERO OUVIR
NO CARNAVAL DE UM SONHO MEU, TE APLAUDIR 2X
VEM PRA CÁ, O QUE É QUE TEM? DEIX’ISSO PRA LÁ!
SOU CABUÇU E A MINHA ELZA VAI BRILHAR

ÁFRICA, ESTRELA NEGRA, A TI EXALTAR!
NA AVENIDA, A VOZ DA PELE A CANTAR
E O ABC DA VIDA RECORDAR
FAVELA NASCEU, LATA D’ÁGUA SANTA ERGUEU
O REQUEBRADO DA MULHER REVELOU
TIMBRE MOLEQUE CONQUISTOU
ARY, SUPERAÇÃO DA LAMA, UM BARRACÃO
SE ACASO VOCÊ CHEGASSE, COM RAZÃO,
DE CALOURA, CANTARIA OUTRA CANÇÃO

NO DRIBLE DA PAIXÃO, O AMOR DO CORAÇÃO 2X
O TEU GURI VAI TE DEIXAR SAUDADE
TODO BOATO TEM UM FUNDO DE VERDADE

DO IPIRANGA, OUVIRAM À CAPELA
NA BBC, RIO-BRASIL EM AQUARELA
MULATA ASSANHADA NA RAÇA E NA COR
SÓ DANÇO SAMBA COM O MEU AMOR
CHAMEGO BRASILEIRO DE SER
INSPIRAÇÃO QUE SEDUZIU O MEU VIVER
AO ECO DE UMA HISTÓRIA
ELZA SOARES, NO CHILE, A VITÓRIA
TEATRO, CINEMA, AO GRAMMY EU VOU
SAMBA CARIOCA EM ROCK NOS LEGOU
CANTO EM FÚRIA SE ELETRIZOU
MALANDRO – POETA
ENTRA E FICA À VONTADE
PARA RENDER A NOSSA HOMENAGEM
EU SÓ QUERO É SER FELIZ (OLHA AÍ)
MINHA ESCOLA PEDE PASSAGEM

O que é carnaval? - Manifesto


O carnaval se passa por uma diversão inútil, quando é a invenção mais rica de arte do nosso mundo contemporâneo. Enquanto se valoriza o luxo extravagante, perde-se a sua verdadeira essência, aquilo que ele faz e só ele faz de forma especial. Cegaram-se de ver sua beleza importando o cinema, o circo e traços e troços arrumados. A luta desta revista é em defesa do autêntico carnaval, até mesmo desconhecido, de que o samba e as escolas de samba de gente pobre fazem um luxo sujo. Uma fantasia que não é mais aristocracia sonhada de ancestrais nem a pobreza dos barracões, uma fantasia remendada com a realidade. Descubram o carnaval e o resgatem da vileza em que a visão distorcida o impregnou.

Fotos - Sereno de Campo Grande 2011 - IV