quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O Candeia do Jacarezinho, uma bela obra de carnaval


Grande samba campeão do grupo 1-b, equivalente ao grupo de acesso A das escolas de samba, em 1987. Escola de samba Unidos do Jacarezinho homenageia Candeia com grande poder de síntese de sua vida e obra. Mesmo um samba que prima por coerência entre as partes, respeito e exaltação a um grande gênio do samba não deixa de se carnavalizar. Vale pensar esse refrão:

Olha o jongo, boi-bumbá
Olha o maculelê (bis)
Capoeira vou jogar

Mistura-se artes da cultura negra cuja única síntese é Candeia. Entretanto, os quatro primeiros versos são bastante lógicos em si. O tempo que passou, nos traz saudade e por isso vamos relembrar:

O tempo que passou
Nos traz recordação laia laiá laiá
Vamos lembrar na avenida
Candeia, luz da inspiração (ao som)

Mesmo assim, observe ao ouvir como o "tom", nesses versos e nos seguintes, fica profundamente triste, mórbido, em tom menor. Estilo tradicional em grandiloquência, homenagem bem centrada e lógica, mas melodicamente como um dia nublado. Há muito que estudar no samba e para isso é necessário fazer muita estatística, além de ter conhecimento musical aprofundado. Não é trabalho de um só e ainda há uma seara a se descobrir.

Entretanto (mais uma vez um entretanto) vale a pena observar o lado sine qua nom do carnaval no samba de Candeia: Portela, sambas, Quilombo, boi-bumbá, jongo, maculelê, capoeira, músicas e ideiais de vida e algum etc não dito. Tudo isso junto e misturado num samba de muita dignidade e ainda com uma quase poesia de elegia melancólica, em que a seriedade do tema tem que estar em foco. Mas não é carnaval?

Mas este foi o carnaval do Candeia do Jacarezinho: a seriedade de uma poesia às vezes de lamento com tantas outras coisas: uma obra de carnaval. O samba não deixa de ser "carnaval" até quando fica sério ou precisar se encenar com nostalgia e exaltação.

Obrigado, Pedrinho Total e pessoal por esta bela obra de carnaval autêntico para a Unidos do Jacarezinho, mais uma vez, campeã.





1986
Enredo: Candeia, Luz da Inspiração
Compositores: Bené do Feitiço, Pedrinho Total, Zé Leitão, Vilmar e Marquinho Mancha

O tempo que passou
Nos traz recordação laia laiá laiá
Vamos lembrar na avenida
Candeia, luz da inspiração (ao som)
Ao som da viola e pandeiro
Sou mais o samba brasileiro
Assim ele nos dizia
Portela, sua escola de coração
Que emoção ao desfilar com os sambas que ele fazia
Fundou Quilombo, que aos pobres ajudou (ajudou)
E a linda arte negra também mostrou

Olha o jongo, boi-bumbá
Olha o maculelê (bis)
Capoeira vou jogar

(Ele inovou)
Ele inovou, revivemos sua raça
Tornando todos os dias em um dia de graça

Bate palmas para mim (plá plá plá) (bis)
O patrão que o ano inteiro vive a me torturar

Cantar (oi cantar)
É a maneira de desabafar
É sorrir pra não chorar
Igualdade, liberdade é natural
Pro negro não mais voltar ao humilde barracão
Para toda humilhação acabar afinal
Agora canta, meu povo canta
Esquece as mágoas porque hoje é carnaval
Agora canta, meu povo canta
Em homenagem ao sambista imortal

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