sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Unidos do Viradouro 2012 - letra, samba e sinopse


UNIDOS DO VIRADOURO 2012 – “A VIDA COMO ELA É, BONITINHA MAS ORDINÁRIA...ASSIM FALOU NELSON RODRIGUES”
COMPOSITORES: FÁBIO BORGES, CLAUDINHO MATTOS, ÊNIO ALMEIDA, VITOR ADOLFO, DANIEL LOUZADA, MARCELLO BERTOLO, RENAN GÊMEO, P.C. PORTUGAL, RODRIGO, DIEGO NICOLAU, FERNANDO JOHARA, FELIPE FILÓSOFO E DIEGO MOURA
INTÉRPRETE: LELÉU

Eu vou viajar pela luz do teu olhar
Amar demais, pecar sem medo
Mentir a verdade, trair o segredo
Tal qual você... em um subúrbio, o pierrô
A eloquência sem pudor
A flor da emoção (oooô)
Quero te ver, ó bela dama pecadora
A inocência tentadora
Reviver...
Amante, "engraçadinha"... me faz enlouquecer
Ordinária, bonitinha... meu prazer

Domingo no Maraca... magia
É sobrenatural essa paixão
Salve as três cores tão lindas
Na fantasia do meu coração

Quando a cortina se abrir
No palco da ilusão
Visto a nudez da liberdade
Nas asas da imaginação
Serei o filme mais belo que vai desfilar
A trilha sonora é o nosso cantar
De corpo e alma eu me entrego anjo sedutor
Vou além dos versos
Pra te conquistar
O teu universo a me guiar

Vou me perder... Amor
E no meu sonho te encontrar
Nelson Rodrigues... Sou Viradouro
Quero ver me censurar

Justificativa
Adentrar o universo de Nelson Rodrigues parece tarefa das mais improváveis, porém através de nosso desfile, faremos esta tentativa. Falar de sua vida, de sua obra é lançar um olhar sobre nós mesmos, despidos de todo o senso de pudor.
O certo é ver que apesar de tantos julgamentos a respeito de seu legado, Nelson Rodrigues acompanhou com reflexões profundas a vida do país que ele via a sua frente, como testemunha e ator de eventos cruciais de nossa história recente.
Através de suas frases memoráveis, somamos as suas experiências da vida e seu pensamento a respeito dela. A vida como ela é, reflete este caleidoscópio, multiface de suas opiniões que variam entre o cáustico e o irônico, passando pelo cinismo velado, sobre os tipos cariocas, seu cotidiano e as relações familiares, além da política e claro, a sua paixão, o futebol.
A Viradouro ao apresentar Nelson Rodrigues como tema, ousa retratar de certa forma o pensamento desse grande gênio de nossa literatura e dramaturgia, usando como álibi uma de suas frases: Toda unanimidade é burra!

Nelson,
Sou eu o samba, que te pede passagem, sou a Viradouro a fazer a viagem em seu universo irreverente, aos subúrbios da sua inspiração. Pela lente de seu olhar, serei a realidade inventada, infielmente retratada da vida como ela é, a sua, cruel e crua a girar no carrossel da emoção.
Eis-me aqui qual anjo pornográfico, a desfilar na rua, num delírio de carnaval, a te invadir a alma, te espiar a mente, perverso, eloquente, assim, como quem trai ou mente, não ver a mulher nua, pelo buraco da fechadura. Serei a flor de obsessão que desabrocha, fruta madura regada de drama e humor.
Vou me tornar todas as mulheres, rasgadas das páginas de Suzana Flag, escravas do amor, destinadas a pecar e a amar demais algum homem proibido. Caberá em mim o que é descabido, assassinos passionais, suicidas enlouquecidos.
Viverei aquelas gordas fofoqueiras, viúvas tristes ou solteiras ressentidas, e nelas encarnarei aqui, o flerte, o adultério, o romance fugaz e o eterno amor. Serei a feia, a interessante, a esposa, a amante, engraçadinha, a bonitinha, a dama do lotação ou então quem sabe, Nelson, aquela que morde, a que arranha e aquela que apanha, pura, casta e sem pudor.
Lembrarei de momentos mágicos, do Mário Filho abarrotado, dos domingos ensolarados, de futebol e picolé, serei o Sobrenatural de Almeida, o inexplicável, o oculto que habita a sombra das chuteiras imortais, me tornarei seu craque predileto, sem caráter. Posso ser também Didi, Garrincha e Pelé.
Estarei na torcida que agita, a xingar o juiz ladrão que errado apita, e na bola que se ajeita pro gol daqueles Fla-Flus ancestrais. Entrarei na discussão dos bares com a cabeça cheia, falando dos lances, dos romances da vida alheia e da sua grande paixão, e se preciso for, virarei a casaca, me farei de pó-de-arroz de corpo e alma, e pra te fazer graça, tricolor de coração.
Abrirei as cortinas do seu teatro, sem o embargo da censura, e exporei a arte, a vida, a realidade pura, a lâmina afiada a rasgar a carne da plateia num desafio, e arrancar-lhes o aplauso, ou o asco, ou o arrepio, e até mesmo o silencio da incompreensão. Serei o seu grito na boca de cena, a fala cotidiana da verdade plena, aberta para a consagração.
E morrerei todas as noites, eventualmente duas, aos sábados e domingos em todas as vesperais, na pele de seus personagens, vestirei pra sempre as suas fantasias que bem poderiam ser reais. De vestido de noiva ou em toda a nudez, serei castigado como a serpente, no juízo crítico, inclemente, com ou sem pecado, perdoado e sem perdão, sob as luzes da ribalta, no palco da sua mais incrível imaginação, senhor Rodrigues.
Por fim, iluminarei a grande tela e vou estrelar sua obra, projetando o filme que passou na sua mente, e revelar na Viradouro que seu espírito paira no viver real de nossa gente. Hoje, você é o anjo que nos cuida, anjo escritor, teatrólogo e jornalista, anjo desconhecido, indecifrável; anjo de todos os sentidos, dos escancarados e dos escondidos, de nossa burra, porém verdadeira unanimidade. Obcecado anjo chamado Nelson Rodrigues, que em frases nos define a vida como ela é, bonitinha mas ordinária.






Fonte: Unidos do Viradouro

Nenhum comentário:

Postar um comentário